O texto aborda o lugar privilegiado ocupado pelo escrito autobiográfico no contexto cultural do Ocidente moderno, no qual o valor atribuído à subjetividade de quem fala ou escreve permitiu que a sinceridade do sujeito enunciador se propusesse ã verdade factual como um valor autônomo e superior. Embora a autobiografia, assim como a própria biografia, só tenha estabelecido enquanto gênero em finais do século XVIII, quando a experiência de cada vida passou a ser organizada como uma narração autônoma e desvinculada dos destinos da comunidade, aponta-se para o interesse em reconhecer no projeto autobiográfico moderno algo mais amplo do que a forma narrativa que ele acabou adotando. Tal procedimento permitiria relativizar os marcos históricos tradicionalmente apontados como correlatos ao empreendimento autobiográfico e enriquecer a percepção das formas que o sujeito moderno encontrou para se dizer. Sugere-se ainda uma história dessas formas possibilitaria retraçar a própria história da subjetividade moderna, entendida como a aventura pela qual o indivíduo aprendeu a se dizer e, portanto, a se conferir significação.