Resumo
A presença de recortes de jornal em arquivos, sobretudo aqueles de natureza pessoal, para além de impor uma série de desafios teóricos e práticos, permite cogitar que a acumulação deste tipo de material reflita uma prática social ainda pouco estudada. Neste artigo, procuramos traçar a origem desta prática social e examinar suas várias manifestações nos arquivos. Trata-se de estudo exploratório, lastreado por revisão de literatura e fundamentado em pesquisa documental. A revisão da literatura aponta para a conexão entre a prática de acumulação de recortes e uma longa e rica tradição de produção de scrapbooks, que vai de encontro às necessidades informacionais dos indivíduos, à materialização dos laços afetivos e à acumulação de capital cultural. Na pesquisa documental, os exemplos extraídos de arquivos pessoais revelam os atributos funcionais adquiridos pelos recortes quando fazem parte de um fundo, determinados pelos contextos de acumulação e uso. Por fim, demonstramos como tais atributos credenciam os recortes de jornal como documentos passíveis de tratamento ancorado nos princípios e procedimentos próprios da Arquivologia, reforçando a primazia do contexto sobre o conteúdo e a importância da definição das espécies e tipos documentais, para o que se faz necessário o diálogo com outros campos disciplinares, entre os quais a Diplomática, as Ciências da Comunicação, a Teoria do Jornalismo e a Linguística.