Resumo
No mundo contemporâneo há uma necessidade de resgatar e preservar a memória, pois a mesma traz à nossa sociedade um sentimento de identidade e pertencimento. É nesse contexto que essa pesquisa traz a abordagem sobre a temática do resgate da memória institucional do Hospital Sociedade Portuguesa de Beneficência de Rio Grande (HSPBRG) por meio dos livros de ocorrência de seu Pronto Socorro (PS). Embora o Hospital realizasse atendimentos, somente em 1959 passou a ser de utilidade pública e foi prestigiado por anos com a sua excelência nos atendimentos. Contudo, a Sociedade Portuguesa começou a enfrentar dificuldades financeiras que começaram a afetar desde a falta de materiais de procedimentos ambulatoriais até aos salários dos funcionários. Por fim, o hospital não conseguiu continuar com suas atividades e encerrou em meados de 2000. Hoje, os livros de ocorrência fazem parte do conjunto de documentos que estão custodiados pelo Arquivo da Administração da Prefeitura Municipal do Rio Grande. Os livros de ocorrência, em sua maior parte, são da década de 1990, tendo somente alguns livros referentes às décadas de 1970 e 1980. O foco desta pesquisa foi nos livros de ocorrência do ano de 1995 por conter uma sequência linear dos registros, ou seja, é o período com menos lacunas de informação. Os livros possuem anotações realizadas pela equipe de saúde (geralmente enfermeiros) dos plantões do PS. Essas anotações incluem informações sobre a data e hora da entrada do paciente no PS, o nome e idade do paciente, o motivo de entrada no hospital e qual era o profissional de saúde que estava atendendo naquele momento e a assinatura ou carimbo do plantonista. Têm como objetivos examinar o conteúdo dos livros de ocorrência do PS do Hospital para preservar sua memória institucional, entender a importância de sua História para a sociedade riograndina e incentivar a memória e o valor da instituição através de seu arquivo. A metodologia empregada na pesquisa é exploratória e possui em sua composição a pesquisa documental. Para sua fundamentação teórica iniciemos com a Arquivologia que segundo o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística denomina o termo como a disciplina que investiga as funções, os princípios e as técnicas do arquivo, desde a produção até a sua utilização (ARQUIVO NACIONAL, 2005). Assim, a arquivologia é um campo que tem como objetivo a organização dos documentos arquivísticos desde a produção até sua destinação final. Também, é importante tratarmos sobre os Arquivos Especializados que nesse caso são os hospitalares. Por sua vez, os arquivos hospitalares são de grande importância devido à necessidade de se guardar documentos referentes aos pacientes para preservar os dados patológicos de cada pessoa que passou pelo hospital. Na pesquisa sobre arquivos médicos ou hospitalares é ressaltado que os acervos que constituem esses arquivos são importantes tanto pela documentação que serve de base ao atendimento como também pelo material de pesquisa (COSTA; ABRAHÃO, 2016). As autoras salientam a importância dos documentos contidos nesses arquivos, uma vez que auxiliam não só no âmbito hospitalar, como também no científico. Partindo desse pressuposto, a memória é essencial para a identidade de uma nação, povo, e até mesmo para uma instituição filantrópica como o HSPBRG. Os livros de ocorrências do Pronto Socorro do Hospital de Beneficência são fontes riquíssimas de memória por conter relatórios médicos diários dos fatos ocorridos no Pronto Socorro. Conforme Bellotto (2006) a memória é entendida como referência e não como um lugar que armazena ou recolhe. Com isso, os livros de ocorrências do PS possuem inúmeros registros sobre a situação dos pacientes quando chegavam para atendimento. Os arquivos possuem uma forte conexão com a memória, pois armazenam uma grande quantidade de informações importantes sobre a sociedade seja em esfera pública ou privada. Desse modo, é possível conciliar os arquivos à memória coletiva, Silva e Silva (2006) ressaltam que a memória coletiva é o elo para fundamentar a própria identidade do grupo ou da comunidade com o passado. Sendo assim, a memória coletiva é a reconstrução do passado realizada por um determinado grupo de pessoas, que não está somente registrado em um suporte, mas gravada na lembrança de um grupo social ou de toda uma sociedade, a qual ajudará constituir a sua identidade. Dando seguimento, podemos considerar o Hospital como um lugar de memória, uma vez que são todos aqueles ambientes materiais que possam permitir a rememoração do passado. Os “lugares de memória” (NORA, 1993) são um mecanismo no qual sociedades usam para eternizar suas culturas e histórias ao longo do tempo, procurando sempre registrar a sua identidade para que a mesma não seja esquecida pelo seu próprio povo. Com isso, esses lugares existem justamente para mantermos vivas essas fontes de informações, uma vez que essa memória se propaga por anos devido à existência dos arquivos. A construção da identidade de uma instituição vem também através da memória coletiva e social, assim como essas memórias contribuem para a preservação e desenvolvimento da cultura e identidade de uma sociedade ela também contribui para a preservação e composição da memória de uma instituição, pois a memória de um corpo social é o fator importantíssimo para construção da memória institucional, Costa (1997) defende que ao contrário do que costumamos pensar, nós somos e fazemos as instituições. Nesse sentido, a formação da memória institucional não acontece somente pelas instituições e seus membros, mas também pela própria memória da sociedade na qual essa instituição está inserida, pois as atitudes e o comportamento dessas instituições vêm refletir diretamente na sociedade. Desse modo, essa pesquisa traz como resultados que os registros médicos são únicos e foram os poucos que restaram para contar sobre o cotidiano do Hospital retratando, principalmente, a ligação do corpo médico do PS com a comunidade rio-grandina e os procedimentos médicos usados no atendimento à população. A contextualização do PS por meio desses documentos se deu pelas informações contidas nos livros, ou seja, as anotações baseadas em dados a respeito da situação de entrada do paciente no PS. Dessa forma, esses dados são exclusivamente relativos aos pacientes, descrevendo somente os dados pessoais e o motivo pelo qual os mesmos estavam dando entrada no pronto socorro. Consequentemente, os livros de registro de ocorrência do HSPBRG reúnem informações que podem ser utilizadas em pesquisas futuras, como estatísticas e análises de dados, identificando quais são os tipos de diagnóstico mais frequentes no PS do Hospital. Além disso, esses testemunhos possibilitam o acompanhamento da evolução do paciente. A realização de uma pesquisa com informações desse acervo que possui documentos de valor histórico inestimável para a cidade e comunidade de modo geral. Esses livros de ocorrências são testemunhos que restaram sobre a memória Institucional do Hospital e para valorizá-los devem ser reconhecidos principalmente pela comunidade da qual faz parte, assim, será garantido que essa instituição seja relembrada e tenha um lugar na história da sociedade rio-grandina. Com isso, os documentos do Hospital da Beneficência Portuguesa de Rio Grande são suportes que representam o passado, assim auxiliam no testemunho das memórias. O que restou da documentação do Hospital assegura a continuidade ao longo do tempo das relações entre paciente e médico, uma vez que registra toda uma parcela da trajetória hospitalar. Através dessas anotações identificamos as tarefas desempenhadas em cada plantão do ano de 1995, tendo ele como principal objetivo na época de atividade do hospital auxiliar na comunicação entre os profissionais da saúde e também como prova legal em defesa da equipe do plantão médico. Esses livros de ocorrência se fazem indispensáveis para a preservação da memória institucional do HSPBRG, pois fazem parte da sua memória. Ressaltando que esses documentos foram os poucos fragmentos que restaram para contar a história do Hospital e por isso se fazem como potenciais de testemunho da memória institucional do HSPBRG. Com isso, essa pesquisa serve para incentivar a busca sobre o HSPBRG tanto para conhecimento próprio quanto para futuras pesquisas acadêmicas sobre esses documentos para que dessa forma se mantenha sempre viva e valorizada a memória institucional. O valor dessa instituição se fez pelo alto nível de prestação de serviços de saúde para a população rio-grandina, onde foram atendidas milhares de pessoas durante muitos anos e mantendo sempre uma grande qualidade no atendimento. Também ressaltando o potencial do acervo desse hospital para o desenvolvimento de pesquisas científicas nas áreas da medicina, história, biblioteconomia, enfermagem, arquivologia, entre outros.
