Resumo
O objetivo deste trabalho é o de levantar questões pertinentes às dificuldades enfrentadas por uma Historiadora, profissional leiga em arquivologia, no momento em que se propõe a participar da organização de um arquivo particular. O acervo que serve para ilustrar o tema desta comunicação é o de Jacques Danon, físico e químico brasileiro falecido em 1989. Quando se organiza o arquivo de um cientista a primeira exigência é a assessoria de um especialista que “traduza” o linguajar científico. Vencida a barreira linguística, depois de feito o levantamento inicial da totalidade do acervo e a montagem de um esboço de arranjo, o profissional passa por momentos de dúvida ao começar a leitura, análise e separação dos documentos em séries. É comum deparar com cartas que se encontram no limiar entre o especificamente privado e o público, contendo dados pessoais sobre os remetentes. Aparece então o questionamento sobre a quem pertence o direito sobre a correspondência. Outra dificuldade que surge e que torna mais interessante a organização de arquivos feita por uma equipe interdisciplinar, é a de que o modo de avaliar os documentos varia conforme a profissão da pessoa encarregada de organizar a documentação. Enquanto o arquivista se preocupa em que nenhum documento receba mais destaque que o outro, o historiador tem que se policiar constantemente para não enfatizar determinados documentos em detrimento de outros. O profissional de história tende a se envolver diretamente com os fatos e personagens retratados nos documentos, o que pode dar um caráter muito subjetivo à organização do arquivo, e prejudicar uma das características do trabalho do historiador, isto é, a busca constante da verdade histórica usando o máximo de isenção. Por outro lado, ao ajudar na organização de um arquivo particular, o historiador utiliza a sua experiência de pesquisa, complementa o trabalho do arquivista, e monta dossiês com descrições que possam dar "pistas" seguras do conteúdo do arquivo e subsídios para a elaboração de artigos e monografias, provando que, quando o arquivista e o historiador trabalham em conjunto a organização do arquivo só tem a ganhar.