Resumo
O artigo discute as crenças e valores populares a respeito da burocracia pública que emergiram de um diálogo entre cidadãos brasileiros e o Programa Nacional de Desburocratização. A partir de uma amostra de cartas endereçadas por indivíduos a esse programa entre 1980 e 1982, a autora constata uma percepção negativa da burocracia pública, que chega a ser representada como absolutamente maléfica. Essa imagem contrasta com a percepção da autoridade política (que os autores das cartas identificam como os escalões mais elevados do poder executivo), vista como "boa e benevolente" e responsável pela distribuição de "favores" entre os cidadãos. O interlocutor do artigo é a principal autoridade do Programa Nacional de Desburocratização, cujos discursos e declarações são analisados. A análise tende a confirmar os modelos cognitivos expressos pelos correspondentes a respeito da burocracia e da política. Na conclusão, a autora discute brevemente os efeitos conservadores deste diálogo, bem como, seu potencial emancipador.