Resumo
O Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, contém não somente a propositura de uma arte dramática política e popular, mas também as bases de uma cena documental, na delicada fronteira entre o real e a ficção – fenômeno que se observa desde as suas primeiras experiências com o Teatro Jornal, ainda no regime militar. Tomando o encenador brasileiro como ponto de partida (muito mais do que como método), este artigo se debruça sobre duas práticas de teatro-educação realizadas por seu autor no Brasil pré-pandêmico – e vinculadas a sua pesquisa de doutorado –, de modo a investigar formas teatrais que privilegiem as horizontalidades dos discursos, a democratização e apropriação dos meios de produção teatral, o protagonismo dos sujeitos por meio de suas memórias e, sobretudo, a potência das artes cênicas na contestação das estruturas de poder. Na trilha desse pensamento, e tomando como norte o chamado drama documental, este estudo busca compreender a aparição e os mecanismos do real em cena, de modo a apreender possibilidades no âmbito da Educação. Afinal, se o teatro é a arte do efêmero, a manifestação do documento nos palcos toca outros domínios que não o do mero registro factual. O documento posto em cena, mais do que o resgate histórico ou a fatura de um levantamento museológico, é o fragmento de um discurso político de conscientização e resistência.