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Nos escombros da Torre de Babel: terminologia e documentos arquivísticos digitais
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Nos escombros da Torre de Babel: terminologia e documentos arquivísticos digitais
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Resumo
Em seu artigo publicado em 1985, Duchein aponta a importância dos estudos terminológicos para o desenvolvimento da área dos arquivos. De acordo com a sua compreensão, o autor traça contornos dos problemas terminológicos da Arquivologia, levando em consideração as traduções, onde o conhecimento produzido em um idioma, pode ser levado e apropriado em outros. Em 1950, realizado em Paris, no primeiro congresso internacional do International Council on Archives (ICA) houve uma proposta para a criação de um vocabulário internacional de terminologia arquivística. O arquivista italiano Emilio Re salientou que esta era uma proposta que esbarraria em duas dificuldades práticas (que ainda hoje assombram os tradutores de terminologia arquivística). Primeiramente é importante destacar que em muitos países nem sempre se conseguiu ter clareza suficiente e uma estabilização definitiva da terminologia arquivística; e posteriormente, deve-se levar em consideração em que idioma ou idiomas os termos deveriam ser definidos? (KETELAAR; FRINGS-HESSAMI, 2021, p. 3). Nos parece que até os dias atuais estes mesmos problemas ainda persistem. Rondinelli, em seu livro publicado em 2002, uma das primeiras publicações brasileiras em português sobre o assunto, optou por traduzir o termo reliability11 por fidedignidade, seguindo a tradução utilizada em países hispanófonos, para definir a qualidade do documento arquivístico proeminente da fase de produção do documento. No entanto, em seu segundo livro, publicado em 2013, traduz o termo para confiabilidade, seguindo uma tradução mais literal do termo em inglês para língua portuguesa. Temos, dessa forma, e mediante a essa situação, um conflito com a tradução do termo trustworthynes, cuja definição se daria pela aglutinação e respeito a outras qualidades com a tradução do termo reliability (fidedignidade na primeira tradução ou confiabilidade na segunda tradução). Ou seja, termos distintos, com definições distintas, que admitem uma mesma tradução para o português. A Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos (CTDE) do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), no ano de 2018, em resposta a consulta feita pela Comissão de Estudos de Gestão de documentos arquivísticos da ABNT, define que trustworthy e reliable podem ser traduzidos para “confiável”. Ambas as traduções foram adotadas pela CTDE do Conarq na publicação de seus estudos e resoluções. Dois anos depois, em 2020, no Simpósio Internacional de Arquivos houve uma mesa redonda intitulada “Diálogos sobre autenticidade de documentos digitais” com as pesquisadoras Luciana Duranti e Rosely Curi Rondinelli em que foi definida a tradução do termo trustworthyness como credibilidade. A tradução de algumas normas ISO sobre gestão de documentos promovidas pela ABNT sofre muitas críticas da área por traduzir literalmente termos em inglês, que possuem definições distintas, mas que podem ser traduzidos pelo mesmo termo em português. Como no caso da palavra avaliação, que segundo o dicionário brasileiro de terminologia arquivística é o “processo de análise de documentos que estabelece os prazos de guarda e a destinação, de acordo com os valores que lhes são atribuídos”; onde segundo o mesmo dicionário equivale ao termo appraisal em inglês. No entanto, a palavra avaliação pode ser a tradução literal de outros dois termos: assessment e evaluation. Contudo, de acordo com a tradução da norma, a palavra “avaliação” foi utilizada indiscriminadamente, sem qualquer ressalva sobre a definição do conceito que o texto original apresentava, para expressar a ideia de avaliação arquivística ou, simplesmente, de qualquer outra avaliação. Desse modo, as traduções eram literais sem considerar a terminologia da área. O problema decorrente dessas traduções é que, dependendo do livro, artigo ou apresentação que usarmos para produzir e referenciar outros artigos, se a tradução não for referenciada no tempo e no espaço e, caso o leitor não saiba da mudança das traduções, a compreensão do texto é seriamente prejudicada, incluindo até mesmo as resoluções do Conarq. Segundo N. Bolfarini Tognoli, A. C. Rodrigues e J. A. Chaves Guimarães (2019) “ao definir um conceito, os pressupostos essenciais são estabelecidos na argumentação e nas comunicações verbais, que são elementos necessários para a construção de sistemas científicos”. A definição desses conceitos se perde em traduções equivocadas que desconsideram a terminologia consolidada pela área, afetando assim, não só a comunicação e a transferência do conhecimento produzido por uma determinada área, como também poderá afetar diretamente as práticas associadas a esse conhecimento. Para tal, foi realizado um levantamento e análise destes termos nos principais glossários da área, além da tradução utilizada por autores reconhecidos pela Arquivologia, nos países lusófonos, anglófonos e hispanófonos. No decorrer desta pesquisa, observamos que é urgente a atualização do Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, tendo em vista que muitos termos tiveram suas traduções alteradas, e o dicionário citado é uma das principais referências da área. Esses “ruídos” apontados por Duchein continuam se configurando como um problema para a área há mais de 30 anos. Parece que pouco evoluímos nesse sentido. Uma busca preliminar nos principais periódicos internacionais sobre Arquivologia traz pouco ou nenhum resultado, demonstrando a carência de estudos tratando não só a terminologia em si, como um objeto a ser analisado, como também dos “ruídos” existentes na área pela imprecisão terminológica e problemas de tradução. O resultado apresentado será o esquema ontológico proposto pelo Projeto InterPARES, traduzido de acordo com a terminologia considerada mais adequada, respeitando a definição consolidada do conceito, a partir dos estudos empreendidos.
Palavra-Chave
Documento > Documento arquivístico digital | InterPARES | Terminologia > Terminologia arquivística
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Organizador(es)
DI BERBARDI, Adriana | LEHMKUHL, Camila Schwinden | LINDEN, Leolíbia Luana | SILVA, Ádria Mayara da | SOUZA, Luiza Morgana Klueger | WITKOWSKI, Michelle dos Santos
Editora
Natureza
Sessão
EIXO 3 - INTERLOCUÇÕES ENTRE TEORIAS, MÉTODOS, TÉCNICAS E A PRÁTICA NA GESTÃO DE DOCUMENTOS E ARQUIVOS
Páginas
127-129