Resumo
Pretende-se realizar uma reflexão de cunho sociológico sobre a constituição e o tratamento de arquivos privados pessoais, partindo da experiência do CPDOC e utilizando exemplos de fundos como os de Gustavo Capanema, Juracy Magalhães e Benedito Valadares. O objetivo é trabalhar a noção de "memória" como produto do encontro de dois tipos de trabalho social: de um lado, o dos sujeitos construtores de uma imagem de si e, de outro, o de profissionais de arquivo que re-cortam e re-elaboram os conjuntos documentais, transformando-os em "fonte histórica". Numa primeira parte, busco desnaturalizar a noção de indivíduo, demonstrando sua densidade histórica e sua conexão com as categorias de tempo, história e memória nas sociedades modernas, destacando a "identidade" como lugar de continuidade e coerência dos indivíduos e grupos sociais. Num segundo momento, aponto para o fato de os arquivos privados pessoais, como as autobiografias e as memórias, configurarem um esforço de auto-representação por parte do titular. Nesse sentido, é importante notar o caráter plástico da memória, reatualizável de diferentes maneiras de acordo com os projetos e as posições ocupadas pelos atores sociais em diversos momentos de sua vida. A Última parte diz respeito à ação das instituições e dos profissionais de arquivo na definição de critérios que consagram uma "memória historizável", através de procedimentos que vão da avaliação descarte arranjo/descrição do material, intervenção que os coloca no lugar de produtores dessa memória.