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Memória institucional FTESM: a função social da coleção José de Souza Marques
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Memória institucional FTESM: a função social da coleção José de Souza Marques
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Resumo
Um dos legados para o subúrbio carioca foi a obra deixada pelo professor, teólogo e político José de Souza Marques. Jovem negro, nascido em 29 de março de 1894 no morro de São Carlos, zona norte do Rio de Janeiro. Contudo, passou sua infância e parte da juventude em Pinheiral. Neto de negros escravizados, teve seu percurso profissional exitoso mesmo em meio a um período recente à abolição da escravatura em que viveu uma realidade de interdições e injustiças. Sua trajetória foi marcada pelo trabalho infantil e pela exclusão no processo de educação formal, exercendo desde seus 8 anos o ofício de carpinteiro junto ao pai e não frequentando a escola. Teve a oportunidade de estudar somente aos 17 anos, quando começou a frequentar uma escola noturna, enquanto de dia trabalhava como ajudante de um vendedor ambulante. Após a conclusão de sua formação básica, continuou perseguindo novas formações sendo aprovado aos dezenove anos para prestar o curso de Bacharel em Ciências e Letras no Colégio Batista, formação que foi paga com seu trabalho na mesma instituição, exercendo vários serviços gerais, que iam desde a faxina a inspeção de alunos. Ainda se formou mais tarde em Teologia e pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Seu inconformismo com as situações impostas não o levou somente a ações individuais, mas o tornaram um agente social engajado na causa da educação, tendo se tornado também um educador após exitosa candidatura para o concurso de magistério no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Mas sua atuação coletiva de inconformidade com esses processos de exclusão da população pobre se deu sobretudo direcionando aos indivíduos de classes menos abastadas a concessão de bolsas de estudos em seu Colégio Souza Marques criado no bairro de Cascadura em 1929, e na sua atuação política como vereador e deputado. A partir desse desejo de legitimar um projeto educacional de qualidade, em 13 de junho de 1966, o Prof. José de Souza Marques, assessorado por 17 colaboradores, criou a Fundação Técnico-Educacional Souza Marques (FTESM), entidade mantenedora das Faculdades e Escolas Souza Marques, ampliando, assim, o acesso dos moradores do subúrbio ao conhecimento universitário. Em 1967, instituiu-se os cursos de Engenharia Civil e Engenharia Mecânica, um dos primeiros a funcionar no turno noturno nesse segmento. No ano seguinte, foram implementados os cursos de Ciências Biológicas, Física, Química, Pedagogia e Letras. Em 1969 a Escola de Medicina Souza Marques (EMSM) obteve autorização para seu funcionamento, iniciando dois anos mais tarde suas atividades no Palacete São Cornélio, na Glória. Segundo Luciane Almeida (2016), em paralelo à sua vida profissional no campo da educação, José de Souza Marques funda o partido político intitulado Partido Republicano Democrático em 1945 e anos mais tarde se elege como vereador e deputado do Estado da Guanabara. Sua atuação política foi marcante na defesa dos direitos de cidadania, em especial a educação, em que desenvolveu o projeto de um programa de crédito educativo do qual tomou conhecimento o então presidente Ernesto Geisel, o concretizando em 23 de agosto de 1975. O Programa de Crédito Educativo (PCE) foi mais tarde, no mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso, transformado no Programa de Financiamento Estudantil (FIES) (BAÍA, 2013). Souza Marques é descrito muitas vezes como alguém que nunca fez “militância da sua condição de integrante da raça negra ou do fato de ser batista ou maçom, despontando como um construtor pragmático, moderado e conciliador” (MAGALHÃES, 2012, p.5). No entanto, quando por preconceito racial foi preterido para ocupar o cargo de secretário no Governo Estadual do Rio de Janeiro, Souza Marques fez denúncia pública na sede da Associação Brasileira de Imprensa, demonstrando não ser alienado à questão racial no Brasil. O falecimento do Professor José de Souza Marques ocorreu em 1974. A abordagem sobre a função social da instituição e sobretudo, da figura de José de Souza Marques, sua história e memória pessoal são os pilares para a iniciativa de criação do Centro de Memória Leopoldina Amélia Ribeiro de Souza Marques, que se volta para a preservação (física e digital) do acervo que conserva memórias individuais, familiares e institucionais. Acreditando que por meio desses registros, é possível conhecer também práticas e saberes escolares que transcorrem quase todo o século XX, tendo assim relevância para a História da Educação. Essa experiência de tratar arquivo/coleção pessoal e arquivo/coleção institucional é o recorte que buscamos trazer para este trabalho e difundir a memória dessa figura política de importância não só regional, como também nacional e ainda tão pouco analisada sob a perspectiva das Ciências Humanas Sociais, aplicadas ou não. É necessário compreender a importância social do documento de arquivo, este que é registro imprescindível para a reconstrução e preservação da história e desenvolvimento de políticas em instituições memoriais e educativas. O acervo de José de Souza Marques apresenta possibilidades múltiplas de discussão no campo preservacionista devido a sua ampla atuação tanto na esfera política em seu período como vereador e deputado do Estado da Guanabara, quanto em suas ações voltadas para o campo da educação, onde debruçou grande parte de sua vida. Ao dar início no planejamento de criação do CMLARSM, ficou evidente o papel fundamental do profissional arquivista, onde este tem a oportunidade de explorar uma história tão pouco difundida, de um símbolo do subúrbio carioca, mas com grande notoriedade no meio político de seu tempo. O CMLARSM tem como sua missão fomentar a salvaguarda do acervo histórico e a disseminação da Memória Institucional, bem como, a de seu fundador, Prof. José de Souza Marques, visando o fortalecimento da identidade da FTESM e a promoção de ações em prol da Educação e Cultura. O objetivo deste trabalho é investigar e apresentar aos pares da área de conhecimento da Arquivologia a dimensão da contribuição do legado que José de Souza Marques – em suas mais diversas facetas –, ao subúrbio carioca. Buscou-se estabelecer a reflexão sobre a correlação entre o patrimônio documental, tangível, e o patrimônio intangível, por meio da metodologia da história oral. Adota-se como metodologia de pesquisa a realização de entrevistas com os familiares mais próximos do fundador da FTESM, perpassando pelos funcionários ativos com mais tempo atuando na instituição e outros profissionais que fizeram parte e aceitaram participar do projeto. De acordo com Meihy (2017), pressupõe-se como um projeto de história oral o planejamento da condução das entrevistas a partir da definição de locais, horário, assim como a “transcrição e estabelecimento de textos; conferência do produto escrito; autorização para o uso; arquivamento e, sempre que possível, a publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao grupo que gerou as entrevistas”. O Projeto de História Oral desenvolveu produtos a partir das entrevistas (gravações, filmagens, transcrições e registros fotográficos), com o propósito de contextualizar o acervo iconográfico, museológico e documental do Centro de Memória, assim como, fomentar a elaboração de exposições temáticas, físicas e virtuais, para a instituição. Para além, também se adotou a abordagem quantitativa e qualitativa, baseada em análise hipotético-dedutiva e de caráter exploratório, uma vez que a coleta de dados se deu por meio de pesquisa em fontes documentais internas – produzidas pela própria instituição – e externas. A prioridade para o recolhimento é dada aos objetos/documentos que promovam a reconstrução da memória da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques (Colégio, Faculdades e Escolas) e do Prof. José de Souza Marques e seus sucessores, possibilitando o estudo dos aspectos sociais, educacionais, políticos e culturais que permeiam a criação e a trajetória da instituição de ensino. Quanto ao recolhimento, esses itens correspondem ao recorte temporal de 1894 até os dias atuais. A data inicial corresponde ao nascimento do Prof. José de Souza Marques e a continuidade temporal acompanha o período de funcionamento da instituição que ainda está ativa. O critério principal é que o Centro de Memória Leopoldina Amélia Ribeiro de Souza Marques seja um ambiente interdisciplinar que dialoga com os demais, articulando ações voltadas para a comunidade interna e externa da FTESM.
Palavra-Chave
Acervo | Centro de memória | História > História da Educação | História > História oral | José de Souza Marques | Subúrbio Carioca
Relacionado à Obra
Organizador(es)
DI BERBARDI, Adriana | LEHMKUHL, Camila Schwinden | LINDEN, Leolíbia Luana | SILVA, Ádria Mayara da | SOUZA, Luiza Morgana Klueger | WITKOWSKI, Michelle dos Santos
Editora
Natureza
Sessão
EIXO 2 - A FUNÇÃO SOCIAL E POLÍTICA DOS ARQUIVOS E ARQUIVISTAS NA CONTEMPORANEIDADE
Páginas
98-100
Ano
Categoria
Local
Outro Idioma
Title/Título/Titre
FTESM institutional memory: the social function of the José de Souza Marques collection