Resumo
Debates recentes sobre a desregulamentação profissional e a proposta de fechamento de instituições vinculadas aos arquivos, à memória e ao patrimônio cultural mostram que há muitas incertezas sobre o que fazem os arquivistas e as entidades da área. Embora existam veículos de difusão sobre os principais acontecimentos e descobertas do campo, tais iniciativas dirigem-se a públicos restritos e nem sempre empregam sistemáticas de curadoria, edição, publicação e preservação das informações divulgadas. É em contraponto a este cenário que surgiu o boletim Giro da Arquivo, objeto central do trabalho aqui apresentado. Publicada semanalmente desde outubro de 2018, esta newsletter é produto de um projeto de extensão que visa promover um espaço plural e sistemático para a circulação de temas atuais sobre a Arquivologia. Visando compreender a formulação, operacionalização e os principais resultados obtidos pelo projeto, o presente trabalho analisa o boletim em seus principais aspectos, contextualizando-o com a literatura referente à divulgação científica e difusão arquivística. Este trabalho tem como objetivo geral analisar o processo de formulação e operacionalização do boletim informativo Giro da Arquivo, bem como os resultados obtidos pelo projeto. Como objetivos específicos, elencam-se: a) descrever o processo de concepção e criação da newsletter e de seus instrumentos de divulgação; b) analisar os resultados obtidos pelo projeto em termos quantitativos e; c) refletir sobre o instrumento enquanto meio de divulgação e popularização da Arquivologia. De acordo com Bueno (2009), a comunicação científica é dirigida a públicos mais restritos e tem por intuito fomentar o diálogo entre especialistas, enquanto a divulgação científica compreende “a utilização de recursos e técnicas, processos e produtos (veículos ou canais) para a veiculação de informações científicas, tecnológicas ou associadas a inovações ao público leigo” (BUENO, 2009, p. 162). Esta distinção está diretamente associada à escolha do público-alvo da ação comunicacional e, por isso, ao analisarmos o boletim Giro da Arquivo, consideramos pertinente atentar para sua compreensão teórica. Como salienta Albagli (1996, p. 397), “a importância dada à popularização da ciência ampliou-se consideravelmente nos últimos anos” e há fatores determinantes que exigem que o tema seja refletido, sobretudo em relação às demandas da sociedade atual. A ideia de que cidadãos possam atuar mais diretamente no processo decisório governamental, por exemplo, exige um amplo e qualificado acesso à informação. Nesse sentido, compreendemos o boletim Giro da Arquivo como instrumento diretamente ligado ao conceito da divulgação, não apenas no que se refere à ciência, mas também a todo o escopo relacionado aos arquivos, aos arquivistas e à Arquivologia. Trata-se, portanto, de um instrumento que emprega técnica, discurso e meios escolhidos de acordo com as características do amplo público-alvo a que é dirigido. Giro da Arquivo se configura como um boletim de notícias (newsletter) que é um meio caracterizado por conter “matérias, fotos e informações multimidiáticas distintas sobre determinado assunto [...] formato é ideal para repassar informações e notícias urgentes” (DESCHAMPS; SELIGMAN, 2009, p. 6). De acordo com Valadares (2017, p. 15), “o diferencial da newsletter é permitir que o internauta tenha acesso a informações, sem ter de navegar pela internet para procurá-las”, o meio “se torna um instrumento muito valioso para os veículos que trabalham com um modelo de curadoria de conteúdo”. Do ponto vista metodológico, o presente trabalho caracteriza-se pelo viés analítico-descritivo de caráter quali-quantitativo e tem por base a descrição do processo de operacionalização da newsletter Giro da Arquivo e seus resultados – sistematizados a partir de dados reunidos pelas plataformas de veiculação do produto. O projeto “Giro da Arquivo: um instrumento de divulgação técnica, científica e cultural para a Arquivologia” tem como objetivo fomentar a divulgação e popularização científica, técnica, profissional e cultural da Arquivologia através da veiculação de um boletim eletrônico de periodicidade semanal e distribuição gratuita por meio digital, mediante assinatura prévia. O boletim busca promover a interdisciplinaridade e interprofissionalidade, além de gerar impacto e transformação social. Para a devida operacionalização dos objetivos do projeto, a metodologia empregada na elaboração da newsletter inclui um processo de curadoria de notícias, editoração, publicação e divulgação do boletim, etapas que ocorrem sempre de maneira padronizada. Giro da Arquivo é publicado regularmente, às terças-feiras pela manhã. Para tanto, ao longo da semana a equipe do projeto encarrega-se da curadoria de notícias relacionadas à área em portais especializados, redes sociais e outros espaços. A curadoria obedece às divisões internas do boletim, pré-estabelecidas em cinco seções: destaque; Brasil; Mundo; Para ler com calma e Para ver com calma. O destaque é composto por um texto produzido pela equipe a partir de um tema considerado relevante. As seções Brasil e Mundo congregam notícias da área classificadas a partir destes dois âmbitos e apresentam um breve resumo com o indicativo para sua leitura integral. Finalmente, nas seções Para Ler e Para Ver com calma, indicam-se publicações, na maioria nos gêneros textual ou audiovisual, sobre temas relacionados à Arquivologia. A editoração da newsletter é realizada a partir da plataforma Mailchimp, que também serve como ferramenta para envio automático das mensagens. Atualmente, o Giro da Arquivo conta com 545 assinantes regulares (números de fevereiro de 2022). Além disso, desde setembro de 2020 a newsletter é divulgada a partir das redes sociais. A página do boletim no Facebook conta com 1,6 mil curtidas e um alcance de mais de 2,8 mil usuários/publicação. No Instagram e Twitter, possui 877 e 80 seguidores, respectivamente. Além das redes sociais, o Giro da Arquivo integrou, durante 12 meses, o conteúdo do podcast ECCOA - Arquivologia Fora da Caixa, com a inserção de áudios gravados sobre os principais destaques do boletim, que totalizaram 52 edições. Com o crescimento não só de assinantes mas também de seguidores nas redes sociais, o Giro da Arquivo criou um ambiente que possibilita a ampliação do intercâmbio de experiências e conhecimento entre a Universidade e os setores sociais vinculados à Arquivologia, à proteção da memória e do patrimônio, ao fomento à transparência da informação pública e à defesa aos direitos cidadãos. O Giro da Arquivo foi concebido a partir da ausência de um informativo periódico sobre Arquivologia no Brasil, lacuna deixada por publicações como o extinto Mensário do Arquivo Nacional. A partir das possibilidades proporcionadas pelas novas tecnologias o boletim se inseriu neste espaço pela via digital, priorizando o fácil acesso e disseminação de informações em diferentes plataformas. Tal inserção, bem como sua repercussão em diferentes espaços, só foi possível graças à metodologia aplicada no projeto, já que todas as etapas de criação e publicação da newsletter obedecem lógicas padronizadas — o que inclui alinhamento total da comunicação entre os integrantes da equipe e constante atenção aos prazos estabelecidos, além de incessante busca por possíveis pautas e meios de interação nas redes sociais. Uma conclusão importante sobre o projeto versa sobre a participação da comunidade acadêmica na construção da newsletter, com especial destaque para discentes em nível de graduação, que atuam diretamente na concepção e distribuição do conteúdo produzido. Compreende-se que este trabalho, além de proporcionar contato com diferentes âmbitos da Arquivologia e de áreas afins, também instiga-lhes um entendimento mais amplo sobre o campo arquivístico e suas interlocuções. Giro da Arquivo, portanto, pode ser percebido como um importante espaço de divulgação que forma redes de contatos entre instituições e projetos relacionados com a Arquivologia, além de estabelecer pontes com outros veículos de informação. Este alcance promove uma maior consolidação da Arquivologia, repercussão relevante no contexto de uma sociedade que recebe quantidade cada vez maior de informações. Por fim, compreende-se que o projeto Giro da Arquivo responde a parte dos anseios da comunidade arquivística por mais visibilidade na sociedade e interação entre pares, contribuindo para a divulgação do conhecimento e para o fortalecimento da profissão.
