Resumo
Propõe-se discutir as interfaces entre arquivos e memória, por meio da análise da história arquivística dos documentos provenientes da Organização Política Operária (POLOP). A entidade atuou nos anos 1960 e 1970 e, no decorrer de sua trajetória, passou por diversas rupturas e rearranjos, principalmente após 1968, quando dissidências deram origem a grupos da luta armada. Desde meados dos anos 2000, a construção de uma memória da entidade vem sendo objeto de investimento por parte de seus ex-militantes, imbuídos da idéia de que, apesar da multiplicidade de composições políticas das quais fez parte, bem como das denominações por ela assumidas, houve sempre alguma unidade e linearidade na trajetória da POLOP. A construção dessa memória se dá, dentre outras ações, pela reunião, tratamento e difusão do arquivo da entidade, que tem passado à custódia de instituições arquivísticas e centros de documentação em diversos estados do país. O elo entre as distintas parcelas do arquivo é possibilitado pelo Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985) - Memórias Reveladas, criado em 2009, visando a estabelecer uma rede nacional de cooperação e informações arquivísticas, além de tornar acessíveis as fontes de pesquisa sobre o período. Pretende-se fornecer elementos para a compreensão tanto do Memórias Reveladas quanto do fundo POLOP – que parecem estar relacionados –, ressaltando a associação entre os processos de acumulação dos arquivos (com destaque para os arquivos privados) e as seleções promovidas pela memória.