Resumo
As fontes de informação bibliográfica em arquivística geralmente estão vinculadas às bases de dados da Ciência da Informação. Considerando a Arquivologia como um campo autônomo de conhecimento, que se difere das outras áreas e possui seu próprio objeto de pesquisa, buscou-se consolidar a produção em arquivística em uma base de dados denominada Base de Dados em Arquivística (BDA). Reunir em um centro nacional de referência arquivística a produção técnica e científica da área é o principal objetivo da BDA, que prioriza os textos de autores nacionais, no idioma português, facultando amplo e livre acesso aos pesquisadores. Tornar-se um instrumento de divulgação da área arquivística e, ao mesmo tempo, uma ferramenta de pesquisa que permita mensurar e conhecer as temáticas abordadas e as respectivas autorias incluem-se, ainda, como objetivos da Base. A estrutura da BDA contempla três categorias: monografias, periódicos e eventos científicos a partir do estabelecimento de metadados pré-definidos para o cadastramento dos itens. A presente pesquisa refere-se exclusivamente à categoria dos eventos científicos, com destaque para as edições de dois principais eventos da área de Arquivologia, o Congresso Brasileiro de Arquivologia, promovido pela Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB), e o Congresso Nacional de Arquivologia, promovido pelas associações de arquivistas/arquivologia que surgiram após 1998. A BDA utiliza a ferramenta Tainacan, desenvolvida por docentes da Universidade Federal de Goiás e Universidade de Brasília, sendo vinculada à WordPress, sistema livre e aberto de gestão de conteúdo para internet. Em sua concepção, o projeto de construção da BDA revela-se inédito por consolidar num instrumento o conhecimento científico da área arquivística e, paralelamente, compartilhá-lo abertamente, na Internet. Contribui, ainda, para a valorização da própria área e de seus profissionais, revelando a construção da arquivística brasileira, seus autores, problemas e avanços. A pesquisa, de caráter exploratório e descritivo, foi complementada com pesquisa bibliográfica. Adotou-se como metodologia na coleta dos dados a pesquisa quantitativa e qualitativa. No aspecto qualitativo, buscou-se filtrar os eventos da área arquivística, notadamente promovidos pelas associações de arquivistas/arquivologia, o Congresso Brasileiro de Arquivologia (1972-2012) e o Congresso Nacional de Arquivologia (2004-). No aspecto quantitativo, adotou-se a identificação dos trabalhos apresentados por autores nacionais, complementados pelos artigos de autores estrangeiros. A definição dos metadados para inclusão na BDA deu-se após um estudo minucioso da forma de apresentação das informações nos anais dos eventos científicos, considerando que algumas registram número de ISBN, de ISSN ou mesmo apenas o formato PDF. Como metadados, definiu-se os elementos de título, autoria, sessão de apresentação, local, dentre outros. A metodologia buscou atender o período de pandemia de COVID-19 vivenciado em todo o país. As atividades propostas, incluindo as etapas de treinamento, cadastramento, revisão, inserção dos PDFs e reuniões de equipe, foram realizadas no formato online. A construção da BDA espelha-se no Centro de Información Documental de Archivos (CIDA), localizado na Espanha, que difunde e disponibiliza a produção científica espanhola, na forma online. Outro elemento fundamental para a pesquisa pauta-se na investigação de Souza (2011) que identificou o índice de 19% de arquivistas com produção científica em arquivística de forma dispersa, sem um espaço para a consolidação das informações. No que se refere aos eventos científicos especificamente, os estudos de Fonseca (2006), Silva (2013), Bottino (2014) e Melo e Cardoso (2018) foram basilares por analisarem a contribuição do movimento associativo na promoção dos dois congressos científicos mais representativos da área, o Congresso Brasileiro de Arquivologia (CBA) e o Congresso Nacional de Arquivologia (CNA). No período de junho de 2020 a janeiro de 2022, foram selecionados, tratados e cadastrados na BDA um somatório de 1.979 itens na categoria de eventos científicos. Insere-se na etapa de cadastramento os textos no formato PDF, desde que disponíveis na Internet e sejam de acesso livre e gratuito. O CBA e o CNA se inserem no corte temporal de 1972 a 2018, sendo o idioma português predominante, ainda que observadas aparições de outros idiomas, sendo o inglês, o espanhol, o francês e o italiano. Os dois eventos demandaram mais tempo de pesquisa para a consolidação das informações. No caso do CBA, as primeiras edições apresentam-se na forma de publicações impressas, resultando na inclusão de novas etapas, como a localização física da obra e a digitação dos itens, principalmente os extensos resumos, alguns com mais de uma lauda. Foram cadastrados 1.241 itens que refletem os trabalhos apresentados, conforme indicado na programação, nos resumos e anais das edições. Constatou-se que o local de maior incidência é o Rio de Janeiro, sobretudo nos primeiros eventos. Quanto ao CNA, a etapa de cadastramento contemplou as oito edições realizadas até o momento com a inclusão de 738 itens na BDA. O IV CNA, realizado em Vitória (ES), apresentou o quantitativo de 140 itens. No entanto, o evento seguinte, V CNA, ocorrido em Salvador (BA), revelou maior quantitativo com 141 trabalhos apresentados. A distribuição geográfica do CNA é praticamente igualitária, exceção para o estado do Rio Grande do Sul que promoveu duas edições, sendo o II CNA, em Porto Alegre, e o VI, em Santa Maria. Verificou-se que os Anais dos eventos cadastrados se apresentam de formas distintas. Uma parte está publicada como monografia com indicação de número de ISBN. Outra parte está publicada em periódicos eletrônicos, com registro de ISSN. A terceira modalidade, sobretudo as primeiras publicações, estão impressas sem indicativo de ISBN ou ISSN, o que contribuiu para a inserção de metadados específicos a fim de atender a forma de registro e recuperação das informações. Por conseguinte, eventos cadastrados como monografia com número de ISBN foi o mais recorrente, sendo os cadastrados como periódico com número de ISSN o menos recorrente. A BDA, desde setembro de 2021, está disponível para consulta por meio do endereço http://arquivistica.fci.unb.br/. Classificada em três categorias distintas, eventos científicos, monografias e periódicos, a recuperação da informação se aplica de forma global, por itens e por coleções com a indicação de descritores. Na construção da ferramenta, considerou-se a organização por meio de metadados pré-definidos, o que impacta também na recuperação das informações acerca da autoria, título, resumo, palavras-chave, ano e local de produção, por exemplo. Um instrumento de recuperação das informações, como uma base de dados, contribui para a divulgação das pesquisas científicas por permitir um acesso rápido e fácil pela Internet, onde o pesquisador e/ou discente pode acessar de qualquer lugar e em qualquer dispositivo. Em complemento, a consolidação das informações em uma base de dados possibilita o acompanhamento das discussões emergentes da Arquivologia ocorridas no âmbito dos eventos científicos. A proposta de criação de uma base de dados para o registro e difusão do conhecimento científico arquivístico brasileiro é um trabalho amplo e de pesquisa exaustiva, que carece de continuidade. Representa, sobretudo, uma das formas de medição do crescimento vertiginoso que vem ocorrendo na produção científica arquivística do Brasil.
