Resumo
A formação profissional de arquivistas envolve diretamente as formas pelas quais são formuladas políticas, sistemas de arquivo, metodologias de tratamento e como se viabi-liza o acesso aos conjuntos orgânicos. Este processo adquire ainda mais relevo na lite-ratura da área na medida em que muitas vezes é uma das principais variáveis utilizadas para reconhecer tradições teóricas, algo que, durante muito tempo, teve como influên-cia as tradições norte-americana e europeia. Considerando que o desenvolvimento dos arquivos e da Arquivologia na América Latina transcorre, em alguns aspectos, de ma-neira distinta aos contextos norte-americano e europeu, pode-se afirmar que o mesmo se aplica na trajetória das concepções de formação dos arquivistas latino-americanos. Contemporaneamente, a literatura sobre esta temática mormente discutiu modelos, vertentes teóricas ou configurações pedagógicas presentes em currículos específicos de algumas escolas ou se debruçou sobre o percurso do ensino da Arquivologia em âmbitos nacionais. Todavia, um exame mais abrangente e de caráter retrospectivo se faz necessário, tendo em vista que um estudo de tal natureza possibilita apreender o fluxo de elementos teórico-conceituais em comum na Arquivologia ensinada e, conse-quentemente, praticada na América Latina. Para responder a esta lacuna, a pergunta de partida desta pesquisa foi: “quais as contribuições dos eventos arquivísticos latino-americanos para as discussões sobre formação profissional de arquivistas na América Latina?”. Diante disso, identificou-se um conjunto significativo de eventos nesses parâ-metros ao longo dos séculos XX e XXI, porém, optamos pelo intervalo de 1952-1972, pois se trata de um período transicional na constituição da ciência arquivística, no qual ocorre a incorporação da gestão de documentos no saber e fazer arquivístico internaci-onal, ainda que não seja percebido imediatamente na conjuntura latino-americana. Por outro lado, percebem-se influências teóricas estrangeiras, principalmente norte-americana e francesa na Arquivologia da América Latina, consubstanciando-se através da visita de especialistas dessas nacionalidades a diversos países da América Latina. Desta forma, nossa análise se debruçou nos seguintes eventos: I Congresso Ibero-americano e Filipino de Arquivos, Bibliotecas e Propriedade Intelectual (Madrid, outu-bro-novembro de 1952); Primeira Reunião Interamericana de Arquivos (Washington, 9-27 de outubro de 1961); Primeiro Congresso Centro-americano de Arquivistas (San Salvador, 1-3 de julho de 1965); Primeira Conferência de Arquivos Caribenhos (Kings-ton, 20-27 de setembro de 1965); Reunião Técnica sobre o Desenvolvimento de Ar-quivos (Washington, 24-28 de julho de 1972), o Seminário Integrado de Serviços de Informação de Bibliotecas, Arquivos e Centros de Documentação (Washington, 6-7 de novembro de 1972) e o I Congresso Brasileiro de Arquivologia (Rio de Janeiro, 15-20 de outubro de 1972 ) para fins comparativos em âmbito nacional. Apesar de existirem outros eventos arquivísticos latino-americanos no recorte temporal escolhido, nossa escolha se baseou no fato de que estes perfazem uma amostragem significativa tanto em termos de abrangência geográfica da América Latina como de diversidade de con-textos de discussão da temática. Sendo assim, inicialmente buscamos conhecer os modelos de formação profissional de arquivistas, posteriormente identificamos a gêne-se da formação arquivística na América Latina no início do século XX, para então le-vantarmos as contribuições dos eventos para a discussão teórico-prática em relação à educação dos profissionais dos arquivos. Considerando a natureza qualitativa do objeto estudado, as metodologias empregadas foram a pesquisa bibliográfica e documental, com uma abordagem descritiva dos dados encontrados. Os resultados sugeriram uma contínua preocupação com a formação profissional nos arquivos, que condicionada a diferentes contextos políticos característicos do período estudado, influenciou na cria-ção de centros de formação internacionais posteriormente.
