O gesto fundador do arquivo é o processo de acumulação. Aqui se pensa o modus operandi do arquivador, isto é, do sujeito dessa acumulação na racionalidade de seus atos. A memória age no sentido da continuidade social transmitindo modelos e encontra no Arquivo o lugar contemporaneamente privilegiado para o exercício de sua produção. A acumulação de registros empreendida pelo arquivador, modo privado de produção de memória, deve informar a prática arquivística encarregada da produção de memória pública. O arquivador é, enquanto sujeito de percepção, um colecionador de eventos. Ele os reconhece na série infinitamente divisível do tempo e estes, uma vez registrados e apartados da cadeia original constituem-se em documentos. A ordem original é o resultado da ação de duas memórias: uma, responsável pelo reconhecimento inte1,igente dos eventos; outra, que sistematiza e instrumentaliza o passado, prolonga o aspecto Útil das lembranças. Sobre a ordem original repousa o sentido que a subjetividade do arquivador atribuiu ao documento. Quando um arquivo se introduz no circuito público através da doação, a imagem histórica do arquivador sobrepõe-se as imagens-lembranças acumuladas. Para o entendimento da ordem original em arquivos privados sugerem-se 4 modelos abstratos que compõem uma tipologia dos seus modos de articulação. O primeiro tipo corresponde a um nível zero de articulação, onde os documentos foram selecionados, mas Seu aspecto Útil não foi preservado; é o tipo caótico. O segundo e terceiro tipos correspondem ao nível de articulação contigua dos documentos e foram denominados centrífugo e centrípeto. O quarto tipo responde consciência histórica do arquivador e pode sobrepor-se aos anteriores: é o tipo monumental.