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A transformação do espaço como trampolim estratégico para a mudança: o caso do Archivo General de la Nación da Argentina
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A transformação do espaço como trampolim estratégico para a mudança: o caso do Archivo General de la Nación da Argentina
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Resumo
Este estudo busca refletir sobre as mudanças iminentes nas formas de armazenamento, conservação e difusão de arquivos pertencentes a instituições centenárias, como o é o Archivo General de la Nación de Argentina (AGN), provocadas pela transformação digital, que refletem a gestão documental híbrida, neste tipo de arquivo. Neste sentido, entende-se que as instituições centenárias estão constituídas em edifícios construídos há muito e que estão imbuídos de representatividade histórica, artística e memorialística, uma vez que são espaços que contêm, em sua arquitetura, sua pintura, sua estética e suas esquinas, traços e retratos do que foi um dia, a sua função original. Estes traços, por vezes, conferem à instituição histórica o sentido de patrimônio cultural identificado, segundo a Ley de Patrimonio cultural, arqueológico y paleontológico argentina como "[...] conjunto de bienes materiales y no materiales seleccionados por una sociedad en un determinado tiempo histórico para expresar la creatividad de ese grupo humano y reforzar su sentido de identidad y pertenencia" (REPÚBLICA ARGENTINA, 2003). Os documentos arquivísticos criados nestes âmbitos conformam vias para a gestão documental, desafiando aspectos como as métricas nos espaços de guarda e conservação, seu acondicionamento, sua legibilidade, a manutenção de normas para a preservação de originais, os esforços conjuntos para a preservação do patrimônio arquitetônico, a aquisição de tecnologias confiáveis para o armazenamento e disposição ao público destes ativos, a rotatividade e diversidade de usuários, causas que fazem o dia a dia do arquivo centenário, o que demanda, por parte de seus usuários, a disponibilização de informações de forma presencial ou remota. Em relação à acessibilidade, grande parte das instituições que funcionam arquivos não foram construídas para este fim e, muitas vezes, funcionam a partir de adaptações realizadas em sua estrutura, para poder receber a documentação e o público (VIDULLI, 1998). Estas características referem-se às coordenadas temporais e espaciais para a construção de um edifício funcional de arquivos, que considera os aspectos: se a construção é recente e independente, ou subordinada à outra antiga, se é a extensão de outro edifício, se é alta em estrutura, qual sua profundidade, quanto de peso sua estrutura suporta (ROMERO TALLAFIGO, 1997). É por esta razão que os arquivos localizados em edifícios centenários dependem de determinadas estruturas que propiciam a gestão documental, possibilitando ou dificultando a difusão das informações aos usuários que devem ter acesso a elas. Neste âmbito, constitui-se um espaço híbrido dentro do arquivo, onde coexiste um sistema de difusão analógico e outro, digital, replicável, por vezes "instagramável" e também, seguro, que configura um dos desafios enfrentados por arquivos com predominância de documentos físicos, os quais passam por uma transformação ao digital ou por longa convivência com o mesmo. Proaño Castro et al. (2018, p.1, tradução nossa), baseados em Westerman et al. (2014) mencionam que "[...] para alcançar a transformação digital, as organizações devem redesenhar a maioria de seus modelos subjacentes de negócio, assim como todos os processos operativos que envolvam produtos e serviços resultantes". Sua implementação, então, requer mudanças estruturais nas organizações, relacionadas a estratégias de marketing e difusão e, principalmente, a sua arquitetura, segundo os objetivos que almejam alcançar. No caso do AGN da Argentina, temos que em 23 de setembro de 2019, no bairro de Parque Patricios, localizado na Cidade Autônoma de Buenos Aires, foi inaugurado pelo governo o novo edifício deste arquivo, o qual se destina a escritórios, áreas próprias para a realização dos processos técnicos no arquivo, auditório e sala de exposições e compreende uma superfície de 8.000 m2, em sua primeira etapa. O design estrutural proposto possibilita, desde as fundações, resolver isolada e independentemente cada etapa em relação à anterior e posterior, estratégias de crescimento em "X" y em "Y". O edifício, neste sentido, está dividido em dois blocos de dois e seis andares: um reservado para depósitos e acondicionamento de arquivos e outro, de acesso ao público. Trata-se de uma construção moderna e inteligente, de 10 mil m2 e contém 29 depósitos que possuem tecnologias avançadas, iluminação adequada, segundo as normas de conservação e preservação e estantes corrediças para maior otimização do espaço. A obra, que soluciona a falta de espaço físico para o arquivo da documentação histórica mais importante e contundente do país, demandou um investimento próximo aos 580 milhões de pesos argentinos; um dado não menos importante revela que o translado do material arquivístico físico e digital, a inauguração do edifício e a comemoração pelos 200 anos do arquivo estiveram atravessados pela pandemia da Covid-19. Desde a sua idealização, a história do novo edifício do AGN remonta ao ano de 2008, quando sua construção foi planejada e se pensou na necessidade de mudar de lugar todo o material de arquivo, para sua correta conservação. Até então, o coração do arquivo estava localizado na Av. Leandro N. Além, em pleno centro da Cidade Autônoma, em um edifício clássico francês, com mais de cem anos de uso — antes de pertencer ao Ministério do Interior, de quem depende o AGN, havia sido um banco. Neste edifício, havia depósitos com janelas que se abriam no sentido da Avenida e o teto possuía diferentes focos de infiltrações, além da presença de instalações que não pertenciam somente ao arquivo, como o elevador que, por décadas, foi compartilhado por trabalhadores, usuários e utilizado como transporte de caixas de documentos, de um andar para outro. Neste contexto, a mudança a outro edifício era quase uma obrigação e ajudaria "[...] a la conservación de la documentación por no estar en contacto con polución excessiva" (ARGENTINA, 2019). No ano de 2012, o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), outorgou um crédito para sua construção; em 2015 se realizou a licitação da obra; em 2016 deu-se início à mesma; e, em setembro de 2019, foi concluída. A mudança estava prevista para março de 2020. A futuro, o desafio do AGN é que a maior quantidade de informação possível possa ser consultada de maneira online, por meio de um software livre, que promova a busca documental acessível e intuitiva. Isto também será uma forma de contar com um precedente para que todos os arquivos do país (de instituições, universidades, centros de pesquisa etc.) sigam os mesmos parâmetros, já que existe, ainda, muito material que é acessado somente de maneira presencial. No momento, o novo edifício está fechado ao público. Sua abertura depende da evolução da pandemia; no entanto, existe um protocolo em andamento, cuja implementação permitirá a consulta presencial, com alguns requisitos de cuidado, referidos ao Distanciamento Social, Preventivo e Obrigatório (DISPO), medida relacionada à pandemia da Covid-19: o ingresso ao edifício será habilitado por fases, com agendamento prévio e será possível consultar o material que se encontre disponível à medida em que a mudança, ao novo edifício, avance. Esta informação estará disponível nas redes sociais e na página web do arquivo. Hoje, o AGN amplia seus serviços remotos mediante o lançamento de três novos Trâmites à Distância, que permitirão aos cidadãos realizar a solicitação de registros migratórios, garantindo o cumprimento de diversos direitos civis. O desenvolvimento de conceitos como o da Transformação Digital, de arquivos eletrônicos, da automatização de processos e serviços nos arquivos por meio de páginas web são desafios para os usuários de arquivos, mas também para o trabalho arquitetônico, visando à adequação de edifícios quanto à necessidade de instalações específicas que enfrente as intempéries causadas pelas oscilações de tensão de energia e de redes informáticas, em espaços onde a coexistência do modelo tradicional e digital é moeda corrente.
Palavra-Chave
Arquitetura | Arquivo | Edifício | Patrimônio | Transformação Digital
Relacionado à Obra
Organizador(es)
DI BERBARDI, Adriana | LEHMKUHL, Camila Schwinden | LINDEN, Leolíbia Luana | SILVA, Ádria Mayara da | SOUZA, Luiza Morgana Klueger | WITKOWSKI, Michelle dos Santos
Editora
Natureza
Sessão
Eixo 1 - O PLANEJAMENTO, A IMPLEMENTAÇÃO E O USO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO NA GESTÃO DE DOCUMENTOS E DE ARQUIVOS NOS PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
Páginas
58-60
Ano
Categoria
Local
Outro Idioma
Title/Título/Titre
The transformation of the space as a strategic lever for change: the case of the Archivo General de la Nación from Argentina