Resumo
O presente estudo busca compreender o potencial dos arquivos escolares para a preservação da cultura escolar, das memórias e do processo de escolarização em diferentes contextos históricos. Tendo como foco a história do Colégio Cruzeiro, antiga Escola Alemã, fundada em 1862, que reúne em seus acervos a história das primeiras instituições escolares. Para tal análise, apresento o projeto do seu Centro de Memória, espaço dedicado a salvaguardar as memórias e ressignificar processos educativos e práticas culturais. Os estudos sobre arquivos escolares têm adquirido uma importância crescente no campo da história da educação e acabam por motivar profundas preocupações em relação à preservação dos seus documentos. São documentos que traduzem a história do fazer escolar, suas práticas, condutas e políticas educacionais, inseridos num contexto histórico das sociedades tecnológicas, que têm seu passado formado a cada instante e, por consequência, as informações são geradas e descartadas com cada vez maior agilidade e frequência. O projeto do Centro de Memória foi criado em 2012 em razão da comemoração dos 150 anos da instituição. O objetivo inicial era promover a preservação do material, o acesso à informação e incentivar a circulação e a troca de experiências entre os diferentes agentes institucionais. Mais tarde, projetos de caráter pedagógicos foram sendo organizados em parceira com professores. Os Centros de Memória devem ser entendidos como um arquivo ampliado, um espaço destinado para a guarda do material estratégico da instituição. Ana Maria Camargo e Silvana Goulart (2015) apontam que, mais do que reunir a memória, esses centros são responsáveis por criar um conhecimento organizacional que preserva o passado de uma instituição e, ao mesmo tempo, visam possibilidades no futuro. O acervo sob a guarda do Centro de Memória reúne: fotografias, documentos, objetos, recortes de jornais e depoimentos orais, que remontam ao final do século XIX até os dias de hoje. Ao organizar, conservar e produzir conteúdo a partir da memória, presente tanto na documentação histórica quanto em seus colaboradores e de outros atores relacionados à vida institucional, podemos observar os arquivos como espaços importantes na guarda de informações e se constituem em grande potencial informativo relacionadas ao funcionamento da instituição e fonte de pesquisa para História da Educação. São compreendidos como lugares de memória (NORA, 1993), fundamentais para o estudo dos processos de escolarização e identidade e, também, como fontes capazes de auxiliar na compreensão dos processos históricos e educativos a partir dos documentos administrativos e pedagógicos. São fontes que possibilitam o vínculo entre arquivo escolar e memória e refletem a vida da instituição que as produziu, dispondo, inclusive, de informações importantes sobre a trajetória de vida dos indivíduos e grupos que fizeram ou fazem parte de uma determinada instituição. (MOGARRO, 2006). Assim, percebemos a instituição escolar possuidora de um universo de cultura própria e, apesar de relacionar-se com diferentes culturas, mantém suas especificidades. Ao integrar-se aos arquivos, intensifica-se o processo de conhecimento e compreensão dessa cultura escolar. (CHERVEL, 1998; VIÑAO FRAGO, 2000, 2001; JULIA, 2001). Na esteira das transformações pelas quais a historiografia passou ao longo das décadas, novas fontes passam a ocupar espaço privilegiado no conhecimento histórico. Nos arquivos escolares não é diferente, as fontes passam a ter um valor informativo e, também, histórico – cultural. São documentos que representam a memória individual e coletiva da educação. Nesse sentido, os arquivos escolares podem servir de elementos constitutivos para o resgate da memória, possuindo documentos de diferentes naturezas e espécies que configuram o patrimônio educativo de cada instituição.
