As comissões parlamentares de inquérito são institutos de caráter temporário criados no âmbito do Poder Legislativo com objetivos e características definidos constitucionalmente, e com poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. Em função da sua natureza investigatória e dos poderes constitucionais e regimentais que possui, há uma grande produção documental durante o seu funcionamento. Dos seus autos, constam documentos ostensivos e sigilosos, produzidos internamente ou recebidos de órgãos externos, em resposta às solicitações da Comissão. Concluídos os trabalhos, o acervo da CPI é transferido ao Arquivo da Câmara, sendo frequente os pedidos de acesso a essa documentação pelos órgãos encarregados de dar prosseguimento às investigações, pelas pessoas citadas no Relatório Final e para pesquisa acadêmica. No que se refere aos documentos sigilosos, a legislação infraconstitucional e interna da Câmara disciplina os requisitos de acesso. No entanto, quando os documentos não são sigilosos, surgem dúvidas em relação à possibilidade e ao tipo de acesso que se possa oferecer, tendo em vista a maneira pela qual esses acervos são formados e que eles podem conter informações ligadas à intimidade, à honra ou à imagem das pessoas, ou à vida financeira ou a segredos comerciais de uma empresa. O trabalho que ora se apresenta visa a discutir o acesso aos autos de CPIs, considerando a tensão existente entre o direito de acesso às informações e as garantias constitucionais no que se refere à proteção de dados sensíveis entregues ao Poder Público.