O artigo examina o processo pelo qual os arquivos pessoais são constituídos, desde as etapas iniciais de acumulação de documentos até a configuração final que assumem quando são organizados e abertos ao público pelas instituições de guarda. Discutem-se as múltiplas intervenções que afetam esses conjuntos documentais e questiona-se a associação comumente feita entre documentos pessoais e memória individual, chamando-se a atenção para as dimensões sociais da produção dessas fontes. Discutem-se ainda os critérios que guiam as decisões pragmáticas tomadas pelos profissionais de arquivo. Se as medidas tomadas para a organização desses documentos tornam-nos acessíveis a um público mais amplo, elas introduzem ao mesmo tempo uma seleção intelectual que confere "valor histórico" a certos aspectos das carreiras dos titulares e a documentos que os registram. Como conseqüência, outros documentos são obscurecidos, na medida em que são classificados como secundários nos vários estágios de organização e descrição do arquivo.