O presente trabalho propõe uma leitura do filme 48, da cineasta e artista portuguesa Susana de Sousa Dias (1962-), orientando-se segundo dois eixos: as relações entre imagem pensante e imagem sobrevivente, e os vínculos entre memória, arquivo e montagem. O título da obra, de 2009, faz referência à duração da ditadura salazarista em Portugal (1926 - 1974), e o texto traz uma série de aproximações tendo como mote as virtualidades que atravessam e movimentam as imagens, uma vez que estas são aqui compreendidas como matéria viva e pulsante. Para tanto, partimos sobretudo das reflexões de três autores: Georges DidiHuberman (1953-), que considera as imagens em um campo anacrônico, questionando métodos tradicionais de análise e trazendo assuntos transdisciplinares para recolocar a própria história da arte; Aby Warburg (1866-1929), cujas investigações sobre movimentos e invisibilidades presentes nos arquivos e nas imagens sugerem perspectivas que ultrapassam leituras simplesmente empíricas ou tecnicistas; e Gilles Deleuze (1925-1995), cujas ideias acerca dos vínculos entre cinema e filosofia nos permitem apontar interrogações ligadas às situações óptico-sonoras puras, à noção de vidência e sobretudo aos contextos da montagem.